OS GOVERNOS ARGENTINO E BRASILEIRO

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                                       Em 06/1, três dias após o acidente, Érica e Hugo (irmã e sobrinho) conseguem partir para Chalten, com o firme propósito de agilizar medidas de socorro a Bernardo.  Chegando, viram que nenhuma autoridade havia estado lá, apenas a "Comissão de auxílio", composta por policiais e por montanhistas voluntários, comandada pela Dra. Carolina, que relatou as estatísticas pessimistas que os levaram a não prestar socorro a Bernardo.                
                                    Além disso, o Coronel Ramirez (Argentino) esclareceu que o governo argentino não dispunha de condições para o resgate. Lá, souberam, também, que FOI A  PRIMEIRA VEZ em que familiares de acidentados foram reclamar o resgate, pessoalmente, em El Chalten.                                         
                                    Segundo informações colhidas por Érica e Hugo, imediatamente após o acidente de Bernardo, duas "janelas" de tempo de 24h e 48h abriram – uma no dia 06 e outra em 08/1.  Como as "janelas" foram curtas, só teria sido possível subir pelo ar, mas, nem a Argentina, nem o Brasil enviaram helicóptero equipado  e equipe treinada para o local, em que pese os diversos apelos da família. Inclusive, no dia 08/1, Érica tentou achar montanhistas que subissem até Bernardo ao menos para levar-lhe fogareiro, remédio, comida e ver seu estado, mas não conseguiu!  A família foi descobrindo, aos poucos, que, sem um helicóptero, nenhum resgate ocorreria.

                                       De outra parte, tomamos conhecimento de processo judicial argentino em que se determinava que a efetivação do resgate dependeria de não haver riscos aos socorristas. Como a Comissão local informara ao juiz que, provavelmente, Bernardo teria morrido nas primeiras horas e que não havia janela de tempo suficiente para a operação por terra, e como não há nenhum helicóptero de resgate no local, nada foi feito.
                                        Por que ninguém subiu até Bernardo em uma das janelas de tempo (06 e 08/1), pelo menos, para levar algo para dar-lhe sobrevida até o resgate? Por que não mandaram helicóptero para salvá-lo numa dessas janelas de tempo (momentos em que o risco aos socorristas seria dimiuído ou mesmo nulo)?
                                         O desespero da família aumentou quando chegou ao nosso conhecimento que um avião sobrevoou o local em 06/1, avistando uma pessoa que acenava, nas proximidades do lugar em que Bernardo havia ficado.
                                        Boato? Seria Bernardo? Não sabemos, nunca saberemos.
                                        O governo argentino não assumiu, desde logo, sua falta de estrutura, somente vindo a admitir no dia 06/1 e, mesmo assim, se escorando numa decisão judicial - que não proibiu o resgate, apenas fixou que deveria ocorrer somente quando não houvesse risco aos resgatistas - como desculpa para sua inação.
                                        O Itamaraty, com sua enorme burocracia e sem orçamento para casos como este, não providenciou o resgate pelo ar. Depois de receber muitos "nãos", a família se dirigiu ao Ministério das Relações Exteriores dizendo:

"Não  aceitamos, nem compreendemos as justificativas apresentadas pelos governos brasileiro e argentino. Basta acessar o YOU TUBE para ver diversos resgates feitos com auxílio de helicópteros na região, cujo clima é hostil, mas apresenta "janelas" de tranquilidade. Nós chegamos a buscar orçamentos junto a empresas privadas - Katabatic(americana), Air Zermatt (suíça) e Modena (argentina) - que afirmam ser possível o resgate por via aérea, apenas com custo muito elevado para a família arcar (considerando que não se trata mais de vida). O Brasil manda seu exército ao Haiti para ajudar as vítimas de terremoto, manda helicópteros da FAB à Colômbia para ajudar no salvamento de reféns das FARC na floresta (notícia de 07/2 - 22 militares para salvar 5 estrangeiros), mas não viabilizou o resgate de Bernardo - um brasileiro!
                        LAMENTAMOS E CHORAMOS SOBRE NOSSA BANDEIRA !
                                A família vem tentando, paralelamente, por meios próprios, obter fotos do corpo, já que o exato local é conhecido. Tais fotos servirão, talvez, para conhecer parte das circunstâncias da morte, e, também, para instruir processo judicial de morte presumida a ser instaurado, e, ainda, quem sabe, para convencer o governo brasileiro, com imagens.

               Essa tem sido nossa saga nesses últimos 2 meses tentando, tentando, e tentando.

Heliane Damiano Collares (mãe do Bernardo)