domingo, 24 de julho de 2011

CENTENÁRIO DO ZÉ SILVEIRA (1911-1996)


Helder,Cristina,Juninho,Zé Silveira,D.Olga,Fernanda,Ana Maria


                                                             
PAPAI FAZ CEM ANOS

Helder Carneiro *


O tempo é inexorável, inflexível e “a saudade é prego, parafuso,
quanto mais aperta tanto mais difícil de arrancar. A saudade é um filme sem cor
que meu coração quer ver colorido”, disse Zeca Baleiro em uma de suas canções.
Outro Zeca, outro Zé é o meu pai. Zé Silveira: intransigente, crítico, humor afiado, nervos à flor da pele, tricolor carioca, pombense de nascimento, ubaense por adoção, muito cedo perdeu o pai. Essa ausência seria fundamental para a formação de sua personalidade. Canceriano clássico, queria sua família, ali, ao alcance de sua mão quando voltasse de suas intermináveis viagens à zona da mata mineira vendendo remédios.
Queria ser médico mas se contentou em fazer a Escola de Farmácia de Ubá para não abandonar sua mãe e três irmãs. Era de muitos e grandes amigos. De sono inquieto. De caráter irretocável. De prosa agradável. Bom contador de casos e de frases de efeito. A melhor delas o imotalizaria: “São todos muito honestos mas meu guarda-chuva sumiu.” Frase que repito mundo afora e é sempre recebida com risos de aprovação e deleite.
Na passagem de seus 100 anos de nascimento, comemorados no dia 22 de junho de 2011, reaparecem fatos, lembranças e situações. As boas principalmente. E outras, de vivência forte, como foi sua despedida do planeta. Nos últimos seis meses de vida do meu pai, resgatei com ele um tanto que nem Freud explicaria. Impossível transcrever aqui toda minha emoção. Cresci infinitamente com a experiência de assisti-lo dia e noite, conversar com ele papos íntimos intermináveis, místicos, divertidos, temerosos. A morte tem a cor da vida. E, presente, na hora de sua passagem - junto com minha irmã Christina - vivi uma das maiores emoções de minha vida, só comparável (se comparável) ao nascimento de minha filha Dora, que também assisti envolto em sensações jamais descritas.
Morte e vida severina em caminhos de mistério, amor, embates, reflexões, esperas, alegrias, pulsações, angústias, encontros e desencontros.
Deixo aqui meu registro: somos uma rede indelével de gens, espíritos, ações, afetos, palavras, emoções e energia.Tão quânticos como podemos ser.
Escrevendo sobre o pai, encontro a filha!
Com luz, paz e amor...

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