domingo, 20 de março de 2011

Poesia - A Freira Olympio

A freira
Olympio Coutinho

Ela acorda de manhã bem cedo,
lava seu rosto, ajeita os cabelos,
sonha com a vida que deixou lá fora,
se enfeitando pra não ir embora.

Veste o vestido de todos os dias,
põe nos seus pés sandálias franciscanas,
sai do seu quarto com 50 anos,
enfrenta, fria, o corredor vazio.

Desce a escada e vai pra capela,
que só tem porta, mas não tem janela,
se ajoelha, fecha os olhos, sonha,
mas nos seus sonhos não há nada dela.

Pede perdão pelos pecados feitos
na noite insone, rolando na cama;
sente vergonha, porque tem no peito
outros amores cheios de defeitos.

Rosto sereno, alma em retalhos,
ela se ergue, vai para o trabalho,
e passa o dia sem pensar no mundo,
no mundo todo que ficou lá fora.

Quando anoitece, se ajoelha e reza
junto ao seu leito solitário, e chora,
abre seu livro de orações e nota
a folha seca que lhe conta história.

Relembra o sonho que deixou lá fora,
se despe e deita – cumpre o ritual;
fica insone, rolando na cama,
até que o sono toma conta dela.

Olhos fechados, adormece e sonha
e os seus sonhos são apenas seus...

Nenhum comentário:

Postar um comentário