domingo, 20 de março de 2011

Poesia - Natal-Olympio

Mais uma poesia do nosso conterrâneo
É Natal...
Olympio Coutinho

O magazin da esquina não pára de anunciar:
– “Nossos preços são mais baixos
e você só começa a pagar
na Copa do Mundo de 2014”.

Meninos estão nas ruas
carregando caixas de sapato com papel colorido
pregado com cola de sapateiro
e pedem dinheiro para o Natal dos irmãozinhos.

Nos semáforos da selva de pedra,
a grande cidade,
crianças fazem piruetas
e criam uma nova forma de sobrevivência:
- Usando varetas,
ensaiam números de equilibrismo
na tentativa de emocionar os motoristas
e ganhar alguns trocados.

A mulher da favela,
que lava roupa o ano inteiro,
saiu com a filha entravada no colo,
coberta por um lençol sujo.
Está assentada nas escadarias da Igreja São José,
pedindo esmolas e falando de Natal.

Amigos nossos saíram por aí,
comprando presentes,
rindo, brincando, atravessando ruas.
Mas não voltaram para suas casas:
a árvore de Natal,
cheia de bolas coloridas,
vai ficar vazia.
Os presentes ficaram espalhados no asfalto
sujo de sangue.

Alguém, que paga por seus crimes,
escreveu na parede de sua cela:
– “Que em todos lares do mundo,
num milagre fraternal,
o burguês e o vagabundo
cantem juntos no Natal”.
Depois, olhou um retrato,
chorou, dormiu... e sonhou.

Lá longe,
uma bomba explodiu
e iluminou o céu.
E o rapaz/soldado pensou no Natal...
Pela última vez.



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